Por: Graziela Gonçalves *
A Medida Provisória nº 1.132/2022, publicada nesta quinta-feira (04/08/2022) amplia o percentual de margem do crédito consignado para os servidores públicos federais para 40% (quarenta por cento), o que antes era de 35%.
Na prática, isso significa que os servidores podem contrair empréstimos consignados (aqueles que são descontados na folha de pagamento) até o limite de 35% da sua remuneração e mais 5% para amortização de despesas com cartão de crédito.
O aumento de 5% não gera grande impacto por sí só, mas é uma ótima oportunidade de trazer à reflexão o assunto DÍVIDA.
Estamos em uma época em que o endividamento do brasileiro está nas alturas. Em abril deste ano foi realizada a pesquisa pela Confederação Nacional do Comércio que aponta que 77,77% das famílias estão endividadas, ou seja, 7 em cada 10 famílias possuem dívidas a vencer e dentre essas, mais de 80% possuem dívidas com cartão de crédito.
Evidente que a dívida com cartão de crédito é a pior que existe, considerando que os juros cobrados pelos bancos com dívidas dessa natureza, aquela dívida rotativa do cartão, quando não se paga o valor total da fatura, já chegou a 349,6% ao ano em 2021.
Já as dívidas com empréstimos consignados são as consideradas dívidas mais baratas, em geral, porque como são descontadas em folha, o risco da inadimplência é baixo, então os bancos cobram uma taxa de juros menor.
O problema é que, de tudo o que o servidor ganha, se destinar até 40% para dívidas, muito provavelmente entrará em um ciclo de endividamento impossível de sair. O pagamento de juros corrói qualquer possibilidade de equilíbrio das contas.
Claro que, como bem sabemos, a falta de reposição salarial, aliada à taxa crescente da inflação, reduz gradativamente o poder aquisitivo do servidor, o que deveria forçar a adequação do padrão de vida. Quando isso não acontece, as dívidas surgem e só aumentam, já que não foi tratado o motivo do desequilíbrio.
A solução para os problemas financeiros quase nunca é ter mais dinheiro!
Eu tenho visto famílias com rendas e posição social diversas com os mesmos problemas: falta de reserva financeira para emergências, constante busca por crédito, gastos além do que ganha, manutenção do padrão de vida que está acima das suas possibilidades e, como consequências: grande distanciamento da realização de sonhos e objetivos, o que causa ansiedade, aumento da jornada de trabalho e muitos outros problemas que extrapolam a saúde financeira, passando para as esferas da saúde física e emocional.
A dívida aprisiona. Assim como na antiguidade o devedor passava a ser escravo do seu credor quando não podia pagar a dívida, quando se contrai uma dívida, está criando uma obrigação para o futuro que vai te aprisionar.
O futuro, como sabemos, é sempre incerto e quando se faz uma dívida está contando que haverá o emprego, ou que ainda estará na função que ocupa hoje; está contando que não haverá qualquer imprevisto, como uma doença pessoal ou na família, um acidente, gasto extra urgente com um reparo na casa ou carro.
E imprevistos não são apenas coisas ruins não. Há muita coisa boa que acontece inesperadamente, como um convite para ser padrinhos de casamento ou uma oportunidade de viagem com um amigo, uma especialização fora do país e tudo isso será perdido, já que criou dívidas para os próximos meses, anos ou décadas e não poderá sair nem um milímetro daquele orçamento engessado.
Acredite: Imprevistos e emergências irão acontecer! Você está preparado para eles?
Mas você pode me perguntar: As dívidas são sempre ruins? E a resposta será NÃO!
Existe dívida boa, aquela que ajuda a construir riqueza, como investimento em negócios, educação pessoal ou outros projetos que possam trazer ganhos.
Para saber se a dívida é boa ou ruim, é preciso verificar as respostas para os questionamentos abaixo:
Aumenta sua qualificação para o trabalho, ou seja, você vai poder ganhar mais com o curso ou equipamento que financiou?
O investimento que fez com a dívida, vale ou valerá mais, mesmo considerando o valor dos juros pagos? Por exemplo, comprei um imóvel que estava abaixo do preço de mercado e tive que contrair um empréstimo para quitar parte desse imóvel.
Considerando o valor total que será pago (incluindo os juros) ainda é inferior ao preço atual do imóvel e que será utilizado para trazer renda extra para a família, como ser destinado para aluguel ou revenda com lucro.
O valor emprestado serviu para investir em um negócio que gerará renda?
As parcelas não irão atrapalhar o orçamento doméstico e não impedirá os demais investimentos?
Se a dívida não foi planejada, geralmente é porque é uma dívida ruim.
Avalie o orçamento antes de pensar em contrair novas dívidas. Para aquelas já existentes, estabeleça um plano de quitação em um prazo menor. Faça avaliação do orçamento doméstico para entender onde está o desequilíbrio. Busque formar uma reserva para emergências, para que quando surgir outro imprevisto não seja necessário novo empréstimo.
Isso pode parecer distante e complexo, mas é preciso apenas começar.
Algumas dicas podem ajudar nesse início como: saber onde está sendo gasto o dinheiro, reduzir os gastos fixos (aqueles que quase não mudam a cada mês), estabelecer limites para os gastos variáveis, contar com o apoio da família para ter um estilo de vida um pouco mais simples para que possam ter mais experiências.
Afinal, a vida tem planos para você e certamente não são de apenas pagar boletos.
(*)Graziela Gonçalves é servidora do TRE-MS, filiada ao SINDJUFE/MS e educadora financeira
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