20/07/2012
Servidores bloqueiam Planejamento por dez horas e são recebidos pelo governo
Bloqueio de dimensão inédita na história das lutas dos servidores mostra que greve tem fôlego; governo diz que estuda contrapropostas
Servidores públicos federais em greve bloquearam a entrada do Ministério do Planejamento por dez horas na quinta-feira (19), dia seguinte à marcha da categoria e de estudantes que reuniu cerca de 20 mil pessoas nas avenidas de Brasília. A ação levou o secretário-executivo da pasta, Valter Correia da Silva, a receber uma comissão com representantes das entidades sindicais e a declarar, embora em tom dúbio, que está em estudo contrapropostas às reivindicações de outros setores do funcionalismo, não apenas docentes e militares. Os grevistas disseram que o governo de Dilma Rousseff tem que negociar com o conjunto das categorias.
O bloqueio à entrada do Bloco K do ministério, onde fica o gabinete da ministra Miriam Belchior, foi total. A operação, de características consideradas inéditas na história das lutas do funcionalismo, começou por volta das 5 horas da manhã. A Polícia Militar tentou intervir, mas acabou se limitando a fazer um novo cordão de isolamento sobre o bloqueio, estabelecendo, assim, um duplo cerco às entradas do ministério.
Música e ironia
Não há registro de incidentes. Tampouco reação dos servidores do local, que ainda não aderiram à greve nacional, ao obstáculo que encontraram ao chegar ao trabalho. Segundo relatos, eles disseram compreender os motivos da manifestação – aumentar a pressão para que o governo aceite dialogar e negociar de fato com o conjunto do funcionalismo – e não forçaram a entrada. Os manifestantes cantavam paródias de sucessos musicais para quem chegada ao trabalho: “Hoje é seu dia folga, hoje é seu dia de folga, ninguém vai trabalhar, se o governo não negociar”, era uma delas. A estimativa é que mil servidores tenham se revezado no ato ao longo da manhã e início da tarde.
Com a polícia bem menos agressiva do que na véspera, quando gás de pimenta chegou a ser lançado contra alguns manifestantes, o ato transcorreu tranquilo e até irônico. “Ui, que delícia, fechamos a porta com a ajuda da polícia”, cantarolavam os servidores, numa referência ao cordão de isolamento também estabelecido pela PM. Desde segunda-feira (16), servidores em greve estão acampados nos gramados da Esplanada dos Ministérios. O acampamento será encerrado nesta sexta-feira (20), após plenária do Fórum Nacional das Entidades dos Serviços Púbicos.
Cadê a secretária?
A comissão de negociação foi recebida à tarde, após muita insistência dos manifestantes, pelo secretário-executivo, segundo nome da pasta, e pelo secretário de Relações de Trabalho, Sérgio Mendonça, designado pelo Planejamento para coordenar as negociações com servidores. Logo no início da reunião, porém, uma situação inusitada expôs a dimensão do bloqueio: a secretária que acompanharia a reunião não conseguira entrar no prédio. A solução foi um policial subir até o gabinete para que, junto com um integrante da comissão de negociação – no caso David Lobão, do Sinasefe, das escolas técnicas federais – descesse à portaria para permitir a entrada da secretária.
Participaram da reunião representantes das três centrais sindicais que integram o Fórum Nacional – Paulo Barela (CSP-Conlutas), Paulo Henrique dos Santos (CUT) e João Paulo Ribeiro (CTB) –, a estudante Luiza Carrera, pelo Comando Nacional de Greve dos Estudantes, e algumas entidades nacionais: Davi Lobão (Sinasefe), Josevaldo Cunha (Andes-SN), Maurício Scotelaro (Condsef) e Janine Vieira (Fasubra). Os trabalhadores reafirmaram a pauta unificada de reivindicações, com a defesa da data-base e do reajuste linear dos salários, sem detrimento das negociações específicas. “Colocamos que o governo tem que inverter a forma de negociação, ter uma política salarial para ao funcionalismo geral, depois descer até as [questões específicas]”, disse à reportagem Paulo Barela.
Questionado, o secretário-executivo disse que o Planejamento avalia possíveis contrapropostas a outros setores do funcionalismo além dos docentes das universidades, que caminham para rejeitar o que foi oferecido pelo governo. Não disse, porém, quais seriam estes setores e tampouco deu certeza de nada. “Dizem que estão estudando, que podem apresentar, mas também podem não apresentar. Não [disseram] nada de concreto”, avaliou Barela.
O governo reafirmou o prazo de 31 de julho para entregar aos servidores números sobre as margens orçamentárias que o Planalto admitiria negociar. A novidade é que, agora, eles não falam mais que isso acontecerá no dia 31, mas até o dia 31, podendo, portanto, nas palavras do governo, ocorrer antes. Os secretários disseram que, com isso, haveria 30 dias para que desenvolver as negociações, até o prazo final de envio da proposta orçamentária da União ao Congresso Nacional, em 31 de agosto.
Volta para casa
A plenária desta sexta-feira (20), em Brasília, tem caráter mais organizativo. A greve vai continuar e, provavelmente, deve ser aprovado um novo dia nacional de protestos: 2 de agosto, com atos nos estados que busquem reunir, além do funcionalismo, a juventude e trabalhadores do setor privado.
O clima entre os manifestantes é de a greve sai fortalecida desta jornada de mobilizações nacionais – marcadas por um bloqueio no Planejamento que deverá entrar para história das lutas dos servidores públicos federais no país.