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“Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas as margens que o comprimem.” Bertolt Brecht

Por João Batista Moraes Vieira*

O Partido dos Trabalhadores poderia muito bem mudar de nome. Não representa mais os trabalhadores. Não representa mais os movimentos sociais. Suas ações de poder não condizem mais com o ideário programático. Ele está do lado da repressão, solta os cães e as armas em cima de estudantes e trabalhadores. Por enquanto anda desferindo balas de borracha, amanhã poderão ser balas de chumbo. Ontem vítima, hoje algoz que se utiliza das mesmas armas dos porões da ditadura militar.

Do ministro da Justiça ao prefeito de São Paulo, a ação proposta é de sufocar a voz das massas que vem das ruas. A força do Estado, o aparato do Estado, os tanques de guerra do Estado contra os gritos do povo. Afinal, a nação está proibida de protestar. A bandeira da pátria já diz tudo: ordem e progresso. Mas que ordem? Ordem para quem? Progresso para quem?

Não venham os históricos aproveitadores petistas dizerem: nós temos nossa origem na luta contra a repressão da ditatura militar, nós temos nossa origem na porta das fábricas, nas greves históricas do ABC paulista, nós lutamos para assegurar hoje a liberdade de manifestar.

Esse discurso vitimista só tem servido como propaganda política para conseguir eleger parlamentares e governos que hoje atuam seriamente para criminalizar os movimentos sociais. Isso é uma fraude, um grande estelionato.

Nos protestos contra o aumento da passagem dos ônibus, a força policial vem enquadrando os manifestantes em formação de quadrilha. Dá nojo de ver esse Estado que reprime e condena os mais fracos enquanto os tubarões surfam nas ondas da corrupção sem nenhuma cana. A mão pesada do Código Penal e o conservadorismo do Judiciário são destinados para quem mesmo?

Bilhões de reais do orçamento público destinados para compra de votos contra a aposentadoria do trabalhador, e isso por acaso não é formação de quadrilha? E ter gasto 1,5 bilhão de reais para reformar o estádio Mané Garrincha, um horrível elefante branco, isso não seria uma violência maior? Dinheiro para Copa tem, mas para acomodar uma criança pobre no leito de uma UTI, isso não tem. Isso mesmo: o DF, um dos entes mais rico da Federação, comandado por governo do PT, deixou morrer uma criança por falta de assistência hospitalar, morreu na mesma semana em que gastava milhões para receber a seleção brasileira também milionária. Mesmo condenado judicialmente, o governo petista do DF não cuidou do filho do porteiro do Paranoá, mas cuidou muito bem das acomodações do staff da FIFA e da CBF.

E o novo pacote do AI-5 vem aí para garantir a ordem da copa do mundo, a ordem dos bilhões das construtoras, a ordem da FIFA, a ordem do COI. No Congresso, onde a maioria dos parlamentares está entregue ao Executivo, há propostas sérias de criminalizar as manifestações e até de proibir a realização de greves no período dos eventos internacionais.

Tais atos, vindos de governos civis e pós-Constituição de 88, são de matar de inveja os generais. Esses talvez não chegariam a tanto porque teria uma marcação cerrada da intelectualidade petista. Afinal, vende-se uma falsa noção de que ser intelectual e ser de esquerda é um patrimônio que pertence exclusivamente à doutrina petista. Não existe esquerda nem intelectualidade fora do mundo petista. São os melhores do mundo.

Que os protestos contra o aumento das passagens dos ônibus contaminem o país para outras causas, outras bandeiras como saúde e educação, o Brasil não pode continuar a ser esse povo cordeiro, a levar uma vida de gado, que aceita passivamente a canga, esse país tem que retomar sua capacidade de se indignar, é assim que se formam as grandes nações.

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João Batista Moraes Vieira é presidente do Sinjufego e coordenador da Fenajufe

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