Por João Batista*
Com tons de apocalipse, chamada de delação do fim do mundo, a divulgação dos depoimentos dos 77 executivos da empreiteira Odebrecht causaria um estrago no meio político tão grande que atrapalharia os planos do Governo Temer de aprovar a Reforma da Previdência.
A presidente do Supremo, Cármen Lúcia, ao homologar a delação, mas sem levantar o sigilo, deu um certo alívio à tropa de choque do Governo que trabalha para aprovar na Câmara até julho as propostas de alteração na aposentadoria. Politicamente a ministra, mais uma vez, cumpre o pacto de governabilidade com o presidente Temer. Ao manter o sigilo das delações da Odebrecht, Cármen Lúcia coloca água fria na fervura, afinal homologar sem divulgar os depoimentos que implicam os mais variados políticos é a mesma coisa que nada. E não se sabe quando, ou até de forma oportuna, serão formuladas as denúncias pela Procuradoria Geral da República, o que pode levar meses.
Sem abrir a caixa-preta da delação da Odebrecht não haverá nenhuma turbulência para o Governo na escolha dos novos presidentes da Câmara e do Senado. Seria um bom cenário para as entidades sindicais, que lutam contra a Reforma da Previdência, se o sigilo da delação da Odebrecht fosse levantado. Não ficaria pedra sobre pedra. Homologar não basta, seria preciso colocar no ventilador os nomes dos parlamentares de A a Z envolvidos no maior esquema de corrupção do País. Em caso de divulgação dos detalhes dos depoimentos, o próprio Michel Temer, que foi citado várias vezes nas delações dos executivos da empresa baiana, assim como deputados e senadores, ficariam nas cordas se defendendo e com a imprensa tendo um prato cheio para explorar. Nessa conjuntura, a Reforma da Previdência poderia sair do foco da lente do Governo.
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João Batista é diretor do Sinjufego