Movidas pelo ânimo de esticar a corda, as entidades sindicais que representam as corporações do Estado armarão suas barracas na Esplanada. Anunciam que o “acampamento” vai durar até a próxima sexta-feira (17/08). Na quarta (15/08), repetirão uma coreografia que vai se tornando rotineira em Brasília. Exibirão sua revolta às lentes de cinegrafistas e fotógrafos numa marcha rumo à Praça dos Três Poderes.
O encontro de Dilma com Miriam Belchior começa às 9h30, no Planalto. Como que antevendo uma conversa longa, a presidente não incluiu em sua agenda nenhum outro compromisso para o período da manhã. Deseja esgotar o tema. O governo não cogita conceder um reajuste linear aos servidores. E a análise pontual de diferentes categorias exige tempo.
Dilma move-se em faixa estreita, espremida por duas premissas que considera incontornáveis:
1) a crise e suas consequências sobre a arrecadação de tributos conspiram contra os gestos de generosidade fiscal; 2) as reinvindicações dos grevistas –R$ 92 bilhões na conta oficial— não fazem justiça aos reajustes concedidos sob Lula e não ornam com a política de cintos apertados que a nova conjuntura impõe. Vão à mesa, portanto, cifras bem mais miúdas do que as almejadas pelos servidores sublevados.
Munida das balizas fixadas por Dilma, a pasta do Planejamento abre-se para a negociação nesta terça (14). Na primeira rodada, vão à mesa as propostas para os servidores do Ministério do Desenvolvimento Agrário, que inclui o Incra. Dividem-se em 26 categorias, entre funcionários de nível médio e superior. Encontram-se de braços cruzados em 25 Estados e no Distrito Federal.
Nas relações do Estado com seus funcionários quem sabe escolher o momento exato costuma economizar muito tempo. Disseminou-se a avaliação de que, sob Dilma, o governo demorou a entrar em campo. Move-se a 18 dias do prazo final para o envio da proposta de Orçamento de 2013 ao Congresso: 31 de agosto. O receio de ser esquecido na previsão de gastos empurrou algo como 350 mil servidores para a greve.
Produziu-se, de resto, um efeito político impensável. Braço sindical do PT, a CUT pôs-se a açular os grevistas. Mais: associou-se a uma reclamação sindical dirigida à OIT na qual o governo da presidente petista é chamado de “totalitário e ditatorial”. Pior: para não ficar falando sozinha, a CUT arrastou para uma nota de repúdio a Dilma as outras quatro centrais sindicais que a apoiaram na sucessão presidencial de 2010.
Divulgado no domingo (12/08), o documento das centrais expressa apoio às greves e atribui o fenômeno à “falta de negociação”. Acusa Dilma de mimetizar “governos passados”. Critica o corte do ponto e a intenção do governo de substituir grevistas federais por servidores estaduais e municipais. Providências que “servem apenas para acirrar os ânimos e por lenha na fogueira do descontentamento.”
O texto se insurge contra “todas as formas de autoritarismo no trato com reivindicações legítimas dos trabalhadores e trabalhadoras do setor público.” E arremata: “As centrais sindicais reconhecem que a saída para a paralisação está na disposição das partes de sentarem à mesa e negociarem até a exaustão, tendo como perspectiva a solução rápida do conflito, reduzindo, assim, os prejuízos causados aos próprios servidores e à população.”
Assinam a peça os seguintes mandachuvas do sindicalismo: Vagner Freitas (Central Única dos Trabalhadores), Miguel Torres (Força Sindical), Wagner Gomes (Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil), José Calixto Ramos (Nova Central) e Ricardo Patah (União Geral dos Trabalhadores).
Tomada pelo discurso que exibe em privado, Dilma faz ouvidos moucos para o alarido sindical. Depois de formalizar as proposta de reajuste que considera possíveis, exigirá o retorno ao trabalho. Desatendida, levará adiante a execução do decreto que editou em 24 de julho (7.777), aquele que autoriza a celebação de convênios com Estados e prefeituras para que servidores locais furem a greve dos federais.
Fonte: Blog do Josias