Palestrantes apontam participação popular como um grande desafio da Conferência de Comunicação
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O primeiro painel A Conferência Nacional de Comunicação e a importância do engajamento dos movimentos sociais e sindical nesta luta contou com a participação da coordenadora da Fenajufe Sheila Tinoco; do coordenador da Abraço (Associação Brasileira de Rádios Comunitárias), José Sóter; da jornalista do MST, Maria Mello; do integrante do Intervozes, Jonas Valente; da integrante do CFP (Conselho Federal de Psicologia), Roseli Goffman; e do membro da Comissão Amazonense Pró-Conferência de Comunicação, Moisés Aragão.
Sheila Tinoco destacou a participação da Fenajufe no processo de construção da Conferência e reforçou a necessidade de todos os sindicatos presentes se somarem às outras organizações sociais nos Estados. Sobre a importância dos trabalhadores do Judiciário e do MPU estarem nessa luta, ela argumentou que essa deve ser uma preocupação de todos que se preocupam com um Judiciário diferente e mais democrático. “Levar esse debate para dentro dos tribunais também é um grande desafio, cujas decisões não chegam até a população. Da mesma forma que os grandes veículos de comunicação estão a serviço de uma classe, o Judiciário também está, e por isso precisamos que todos os trabalhadores entrem nesta luta”, afirmou.
José Sóter, da Abraço, abriu sua fala comparando a quantidade de jornalistas que trabalham na grande imprensa entre a que está nos movimentos sociais e sindical, apontando a urgência dessas organizações investirem mais na comunicação popular. “Precisamos convencer as direções da importância do papel da comunicação comunitária e popular. E temos que garantir a utilização dos canais comunitários, por parte dessas organizações, para ampliarmos o nosso poder de comunicação”, afirmou o representante da Abraço.
Ele também apontou alguns dos pontos que precisam ser tratados na Conferência de Comunicação, como a garantia do controle público dos meios de comunicação, que se beneficiam das concessões públicas; o financiamento público para os canais de rádios e TVs comunitárias; e a constituição de um fundo público para o desenvolvimento da mídia comunitária e popular. “Mas para avançarmos nesse terreno, precisamos levar esse debate para as comunidades”, reforçou.
“É preciso acabar com o latifúndio da grande imprensa”Para a jornalista e integrante do Setorial de Comunicação do MST, Maria Mello, a atuação dos veículos de comunicação serve única e exclusivamente para manter a estrutura do capitalismo no país. Para reforçar ainda mais a sua afirmação, ela citou a forma como os principais telejornais e veículos de mídia impressa abordam os atos e manifestações dos movimentos sociais, especialmente as ocupações do MST. “A criminalização feita hoje pela mídia contra as organizações sociais e sindicais dificulta qualquer perspectiva de luta, por isso o MST defende que a gente construa os nossos próprios meios”, afirmou.
Sobre a Conferência de Comunicação, a jornalista criticou o corte feito pelo governo ao orçamento destinado à realização do evento, que passou dos 8,2 milhões para 1,6 milhão. Também falou da composição da Comissão Nacional Organizadora, instituída pelo Ministério das Comunicações, que favorece mais aos empresários do que aos movimentos sociais. Por fim, Maria Mello citou alguns desafios apontados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra que precisam estar na pauta das organizações envolvidas no processo da Conferência, como: consolidar uma proposta de comunicação popular; investir na formação e levar o debate sobre a comunicação às diversas comunidades do país; e trazer o acúmulo da esquerda e do movimento sindical para a luta contra hegemônica. “Assim como o latifúndio do agronegócio, precisamos acabar com o latifúndio da grande imprensa”, finalizou.
Roseli Goffman, do Conselho Federal de Psicologia, abordou mais a questão do conteúdo da programação dos canais de TV e apontou como um dos principais desafios para a Conferência de Comunicação a garantia do controle social da mídia. Ela fez uma abordagem sobre os efeitos da publicidade para o público infantil e a necessidade de haver um maior controle da programação. Mas para isso, de acordo com ela, é preciso superar a lógica da concentração dos meios de comunicação no Brasil. “Crianças até 12 anos de idade não deveriam ser estimuladas ao consumo. Precisamos promover um maior controle da programação”, ressaltou.
Moisés Aragão, militante da Abraço do Amazonas e integrante da Comissão Amazonense Pró-Conferência de Comunicação falou da realidade em que vive a população da região Norte e das dificuldades de acesso aos diversos meios de comunicação. Segundo ele, a Conferência de Comunicação precisa refletir sobre essas limitações e discutir alternativas para superar esse modelo de exclusão. “Alguns municípios só têm a transmissão de um canal de TV e vivem num total isolamento. Precisamos nos organizar para acabar com o fim do monopólio dos meios de comunicação e a Conferência é apenas um primeiro passo para isso. Esse é um desafio de todos os movimentos sociais”, argumentou.
A Conferência de Comunicação só interessa à classe trabalhadora
O último palestrante do painel, o militante do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação, Jonas Valente, fez um histórico sobre a luta dos movimentos sociais para que o governo federal convocasse a Conferência Nacional de Comunicação. Jonas lembrou dos primeiros encontros que apontaram as estratégias de atuação do movimento e dos embates com o ministro das Comunicações, Hélio Costa. Ele ressaltou, ainda, a atuação da Fenajufe nesse processo que, ao lado de várias outras organizações, vem cumprindo o papel de mobilizar os diversos setores para o debate sobre a democratização da comunicação.
“Eu não tenho dúvida e vou continuar afirmando que foi a pressão dos movimentos sociais que garantiu a convocação da Conferência. Mas precisamos garantir a participação dos setores populares nas etapas estaduais e, principalmente, na etapa nacional, para podermos fazer o embate com os setores do empresariado”, explicou Jonas.
Por fim, ele falou do papel da classe trabalhadora nessa batalha, que precisa se organizar para ter um programa claro de comunicação que atenda aos interesses da classe. E, nesse sentido, de acordo com ele, as entidades envolvidas têm como grande desafio conseguir que os diversos setores populares se apropriem do debate sobre dos temas que estarão pautados na Conferência. “O empresariado dos grandes veículos de comunicação tem clareza de que lado está e o que ele quer. Nós precisamos reconhecer o nosso lado, que é o da classe, e definir o nosso programa. A Conferência de Comunicação só interessa à classe trabalhadora, e por isso ela precisa estar atenta e mobilizada em torno dessa luta”, finalizou.
Fonte: Agência Fenajufe de Notícias