Por João
Batista, diretor do Sinjufego e co-fundador do Fórum Nacional de Prevenção e
Combate ao Assédio Moral no Serviço Público - Fonaprecam
Considerado assunto de difícil abordagem, por vários
fatores, entre os quais religiosos e culturais, evita-se falar nos casos de
suicídio, bem como na sua divulgação, isso na boa intenção de não estimular a
sua prática.
Contudo, está
havendo mudança dessa postura motivada pelo crescente número de ocorrências:
segundo registros da Organização Mundial de Saúde (OMS) o Brasil é o 8º país
com mais casos em termos absolutos. O percentual subiu 60% desde 1980, havendo
o registro de 11.821 eventos no último levantamento global em 2012.
Como
transtornos mentais eventualmente desencadeadores do suicídio, e ainda com base
nos dados da OMS, o Brasil é o país que possui a maior incidência de casos de
depressão da América Latina e vem ocupando o primeiro lugar no ranking dos
países com maior número de pessoas que sofrem com transtornos de ansiedade.
Como forma de quebrar o tabu, este mês de setembro é
dedicado ao debate desse tema tão sensível. Esconder e abafar a discussão,
portanto, não é o melhor caminho para o enfrentamento do suicídio, nesse
sentido, como política de saúde pública, a ONG Setembro Amarelo defende que
falar sobre o assunto é a melhor solução para fazer frear a escalada dos casos
de suicídios.
Já no segmento do servidor público, enquanto entidades
representativas, interessa nos muito saber as causas que levaram o servidor a
cometer o ato extremo que pode (ou não) guardar relação com o ambiente de
trabalho, daí que se impõe a necessidade de investigar a fundo os casos de
suicídio para tirar a limpo se o servidor sofreu algum abalo emocional no seu
local de trabalho.
Fazendo um corte mais específico para falar sobre os
casos de suicídio no Judiciário Federal, é muito sintomático quando um servidor
tira sua própria vida no Tribunal onde exercia justamente suas funções. Qual o
recado que o servidor queria deixar? Hoje com as cobranças para executar as
metas de produtividade, os servidores vêm sofrendo extrema pressão por parte
das suas chefias. Há ainda os processos disciplinares sem justa causa que são instaurados
com o único propósito de perseguir e massacrar o servidor.
Tenho insistido
que a Gestão de Pessoas dos Tribunais, salvo exceções, não lidam com seus
servidores enquanto pessoas, está mais vocacionada para tocar processos
administrativos e fazer os registros dos assentos funcionais, as SGP's deveriam
ir além disso, precisam ser menos burocráticas e fomentar iniciativas que
propiciem a melhora do clima organizacional. Nunca é demais dizer que o assédio
moral, mal silencioso e devastador da saúde mental do servidor, pode levar,
sim, ao suicídio.
Na prevenção
dos transtornos mentais, no combate ao assédio moral, os Tribunais podem fazer
muito mais, devem ter uma intensa e constante política de gestão de pessoas
voltada para melhoria do ambiente de trabalho. O desafio é grande, mas é
preciso mudança de paradigma das SGP's para focarem nos projetos de recursos
humanos que passam a conferir tratamento mais humanizado aos servidores, os
quais não podem continuar a ser vistos como mero número na estatística
funcional e uma simples peça na engrenagem de produção dos Tribunais.